sexta-feira, 15 de abril de 2011

BANCO FLANELINHA 24 HORAS*

"Sábado passado saí de casa pra ir ao cinema. Saí meio atrasado e, como não consegui nenhum táxi, resolvi ir de carro mesmo. O cinema era em Ipanema, na Vieira Souto, a vaga mais próxima que encontrei foi no Leme. Fiz o retorno e dei mais uma chance pra sorte. Estava a uns 800 metros do cinema quando um flanelinha apareceu.

- Tô sem vaga no momento, dotô. Pára ali em cima da calçada que eu dou uma olhada pro senhor.

- E quando chegar a multa, trago aqui pra você pagar?

- Pagar multa? Ainda tá nessa, seu casseta?

Acelerei sem responder ao profissional. Até porque, se fosse pra parar na calçada, largaria o carro na porta do cinema e não a 800 metros de distância. Não sou tão otário assim…

Mais adiante, bem em frente à calçada que estava de olho, vejo um carro deixar o estacionamento. Piso fundo pra não perder a única vaga politicamente correta da noite. Depois da seqüência de barbeiragens, arranhando o pára-choque do vizinho de trás e mordendo a lanterna do carro da frente, surge um solícito flanelinha.

- Ô meu irmão, beleza? Eu sou do Ceará e tô aqui defendendo um troco. Se puder dar uma força…

- Na volta, na volta, camarada.

Atravessei a rua pensando: Porra, o cara chegou ontem do Ceará e já é dono de um pedaço da Vieira Souto? Isso é que é ascensão social!

Acontece que na bilheteria do cinema vi que tinha deixado a carteira em casa. Voltei pro carro.

- O que houve, irmão? – o flanela me perguntou. – Não gostou do filme que tá passando?

- Não, é que eu tô sem grana, sem cartão, sem carteira, sem nada. Até sem trocado pra te dar.

Aí o flanela me surpreendeu.

- Você não pode voltar pra casa assim, irmão. Olha, eu tô aqui com trinta reais. Eu te adianto e você me paga depois.

- Como é que é? – fiquei atônito com a proposta.

- Trinta pratas. Depois a gente acerta.

Hesitei. Quase aceitei a oferta. Ainda imaginei a ameaça: “Pega logo essa grana ou eu te arranho toda a lataria!” Voltei pra casa pensando na situação. Qual será a taxa de juros? Será que consigo um financiamento pra casa própria? A agiotagem do flanelinha é um crime grave?

Empréstimo sem avalista, sem burocracia, sem comprovação de renda… Banco Flanelinha 24 Horas! Um serviço que poucas cidades no mundo oferecem."


*Texto escrito pelo Casseta Helio de la Peña.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

JUIZITE – UM DESSERVIÇO À MAGISTRATURA!

"Irritação, nervosismo, rispidez, insegurança, arrogância, autoritarismo e prepotência são sintomas patológicos identificados em parte dos magistrados brasileiros.

As consequências daquele estado irritadiço, arrogante e prepotente, que no “mundo jurídico” passou a ser chamado de “juizite”, tem-se revelado através do desrespeito às partes, pressão psicológica sobre as testemunhas, perseguição a servidores, maus tratos a advogados e inobservância às suas prerrogativas, muito deles recusando-se o simples registro, em ata de audiência, de um protesto por cerceamento de defesa.

Da maneira como conduz o processo, ninguém pode “ousar” discordar, “esquecendo-se” do que aprendeu na academia, que a ”liberdade de julgar não está acima da lei, nem da segurança do direito”.

Como seria bom se todos compreendessem e reconhecessem, como reconheceu o Juiz Rafael Magalhães, mineiro, um dos mais eminentes do Brasil, quando, há mais de quarenta anos, proclamou que “o advogado precisa da mais ampla liberdade de expressão para bem desempenhar o seu mandatoe que “o Juiz deve ter a humildade necessária para ouvir com paciência as queixas, reclamações e réplicas que a parte oponha a seus despachos e sentenças”, arrematando que “seria uma tirania exigir que o vencido se referisse com meiguice e doçura ao ato judiciário e à pessoa do

julgador que lhe desconheceu o direito”.

Lamentavelmente nem mesmo o tempo tem-se encarregado do amadurecimento do portador da “juizite” para inspirar-lhe confiança, sensatez, paciência e a cordial convivência com os advogados e as partes, dando-lhe a certeza de que é ele mesmo, nos limites fixados pela lei, quem, ao conduzir o processo, substitui a vontade das partes e decide, como se fosse o próprio Estado.

O Poder Judiciário, diferentemente dos dois outros poderes do Estado, na prestação de seus serviços, “é aquele que assegura direitos, aplaca dissídios, compõe interesses na diuturna aplicação da lei e de sua adaptação às mutáveis condições sociais, econômicas e políticas”. Exatamente por isso, é o poder que reclama de seus membros “serenidade e bravura, paciência e desassombro, humildade e altivez, independência e compreensão”.

De igual modo o advogado, na luta pelos interesses do seu cliente, deve se portar “como um guerreiro sem bravata” e não é por isso, senão, que também deve manter a sua independência em qualquer circunstância, não devendo ter receio de desagradar a qualquer autoridade, nem de incorrer em impopularidade, no exercício da profissão.

A “juizite” tem-se revelado num desserviço à magistratura.

O juiz vocacionado esquece o relógio e o afã em terminar rapidamente as audiências. Ouve as partes e as testemunhas com paciência. Faz prova bem feita, dispondo de elementos para uma decisão segura, com menos riscos de injustiças, além de não cercear os sagrados direitos das partes e dos seus procuradores, ainda que a sua carga seja pesada e tenha centenas de processos a despachar.

Na convivência diária com o juiz, o advogado deve conduzir-se profissionalmente nos limites da elegância, da cordialidade e da ética, mas não pode esperar tão somente pelo tempo, pela cura da “juizite”.

É preciso que o advogado combata tal “enfermidade”, sem receio de melindrar ou desagradar ao magistrado, desde que sua ação se enquadre nos limites estabelecidos pela lei estatutária, com altivez e serenidade, de modo firme e respeitoso.

A vocação do advogado é combater, é lutar, é opor-se, é apaixonar-se pela paixão alheia, é ter alma de guerreiro, ainda que às vezes não seja nem mesmo compreendido por aqueles que fazem justiça!

Nossa ação deve se desenvolver no campo da utilização dos “remédios jurídicos” postos à nossa disposição: a representação correicional, a denúncia pública do seu comportamento atentatório à própria magistratura, o protesto por cerceamento de defesa, a interposição de recursos, o requerimento de mandados de segurança.

Nossa omissão seria estímulo a um “processo epidêmico” que poderia atingir toda a magistratura brasileira, em razão da “contaminação pelo exemplo”.

SAUL QUADROS FILHO é advogado, professor de Direito Constitucional e Direito do Trabalho da UCSal e Presidente da OAB/BA.

sábado, 2 de abril de 2011

#mobilizauesb (Postado no Blog http://mobilizauesb.blogspot.com)


"No dia 29 de março de 2011, nós, estudantes de diversos cursos da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, fomos às ruas para mostrar nossa indignação com a situação em que se encontra a universidade pública. Fizemos manifestações durante todo o dia, paralisando as atividades acadêmicas da universidade em todos os turnos e marchando pela avenida Olívia Flores, além de realizarmos assembleias para decidir os rumos da nossa organização. A manifestação contou com a participação de mais de 300 estudantes. Os estudantes dos campi de Itapetinga e Jequié também estão mobilizados e paralisaram a universidade nesse mesmo dia. Além da nossa pauta histórica por assistência estudantil e por melhores condições estruturais e administrativas na universidade, reivindicamos contra a atual política educacional do Governo do Estado.

Em 09 de fevereiro deste ano, o Governo da Bahia editou o decreto 12.583/11 e, pouco tempo após, a Portaria 001 que o regulamenta. Cortando verbas para as empresas públicas, o decreto impede a contratação de professores substitutos (impedindo a saída dos professores para qualificação) e a mudança de regime de trabalho de professores para Dedicação Exclusiva (diminuindo a disponibilidade de professores para a pesquisa e extensão). Além disso, corta gastos com água, energia, xerox, cursos, seminários, capacitação e treinamento dos servidores públicos, telefone, assinatura de revistas e jornais, ônibus e demais veículos da universidade. Tais contenções chegam a 30%!!! Essas disposições irão piorar ainda mais as condições já precárias das universidades baianas, além de ferir a autonomia universitária. Isso demonstra qual lugar ocupa a educação no rol de prioridades do governo, e qual o projeto de educação ele implementa – o de total esfacelamento da universidade pública.
Diante disso, nossas reivindicações são:

  • Pela revogação imediata do decreto 12.583/11
  • Contra o aumento da tarifa de ônibus e pela melhoria dos serviços de transporte
  • Contra os preços abusivos e a comida de má qualidade das lanchonetes e do restaurante universitário
  • Por melhores condições na residência estudantil e pela reformulação, com participação dos estudantes, do seu edital que, por excesso de burocracia, impede o acesso aos estudantes
  • Pelo pagamento em dia das bolsas de auxílio, monitoria, pesquisa e extensão
  • Pela transparência acerca da administração do orçamento da universidade
  • Pela criação e manutenção de projetos de pesquisa e extensão
  • Pela construção de salas de aula e laboratórios que atendam à demanda estudantil
  • Pela regularização do quadro de professores (atualmente faltam 46 professores) e contratação de mais docentes
  • Pela diminuição do preço abusivo da xerox
  • Por melhores condições de acessibilidade e de infra-estrutura para os estudantes portadores de necessidades especiais
  • Pelo aumento imediato do número de livros da biblioteca



Em defesa de uma universidade pública, gratuita e de qualidade, contra o seu sucateamento e terceirização dos seus serviços!!!"


http://mobilizauesb.blogspot.com/2011/03/nota-dos-estudantes-da-uesb.html