- Tô sem vaga no momento, dotô. Pára ali em cima da calçada que eu dou uma olhada pro senhor.
- E quando chegar a multa, trago aqui pra você pagar?
- Pagar multa? Ainda tá nessa, seu casseta?
Acelerei sem responder ao profissional. Até porque, se fosse pra parar na calçada, largaria o carro na porta do cinema e não a 800 metros de distância. Não sou tão otário assim…
Mais adiante, bem em frente à calçada que estava de olho, vejo um carro deixar o estacionamento. Piso fundo pra não perder a única vaga politicamente correta da noite. Depois da seqüência de barbeiragens, arranhando o pára-choque do vizinho de trás e mordendo a lanterna do carro da frente, surge um solícito flanelinha.
- Ô meu irmão, beleza? Eu sou do Ceará e tô aqui defendendo um troco. Se puder dar uma força…
- Na volta, na volta, camarada.
Atravessei a rua pensando: Porra, o cara chegou ontem do Ceará e já é dono de um pedaço da Vieira Souto? Isso é que é ascensão social!
Acontece que na bilheteria do cinema vi que tinha deixado a carteira em casa. Voltei pro carro.
- O que houve, irmão? – o flanela me perguntou. – Não gostou do filme que tá passando?
- Não, é que eu tô sem grana, sem cartão, sem carteira, sem nada. Até sem trocado pra te dar.
Aí o flanela me surpreendeu.
- Você não pode voltar pra casa assim, irmão. Olha, eu tô aqui com trinta reais. Eu te adianto e você me paga depois.
- Como é que é? – fiquei atônito com a proposta.
- Trinta pratas. Depois a gente acerta.
Hesitei. Quase aceitei a oferta. Ainda imaginei a ameaça: “Pega logo essa grana ou eu te arranho toda a lataria!” Voltei pra casa pensando na situação. Qual será a taxa de juros? Será que consigo um financiamento pra casa própria? A agiotagem do flanelinha é um crime grave?
Empréstimo sem avalista, sem burocracia, sem comprovação de renda… Banco Flanelinha 24 Horas! Um serviço que poucas cidades no mundo oferecem."
*Texto escrito pelo Casseta Helio de la Peña.
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